Após a festa de Pentecostes e antes da festa de Corpus Christi a Igreja nos convida a celebrar a Santíssima Trindade. Certamente é um Mistério apresentado a nós, por Jesus, que nos revela as três pessoas em um só Deus. Deus em sua pedagogia foi paulatinamente mostrando sua face e suas propriedades de forma que pudéssemos entrar em seu mistério sem causar um “espanto eterno”. Assim vemos na primeira leitura Deus se apresentando a Moisés a quem revelou seu nome – YaHVeH - hwhy - Deus passou perto de Moisés que clamou por seu Nome e invocou a sua misericórdia, neste ponto do caminhar do povo de Israel eles descobrem ou lhes é revelado que Deus é um Deus de Amor e de Misericórdia.
É uma novidade, o povo não havia ainda descoberto esta propriedade de Deus. Vemos assim, que o povo escolhido, vai descobrindo quem é Deus à medida que caminha e que busca sua companhia. Desta forma observamos, em todo Antigo Testamento, a revelação que, respeitando os limites dos homens, vai acontecendo até chegar à pessoa de Jesus que completa e inaugura a presença de Deus Trino entre os homens. Assim, nasce uma nova geração - os filhos de Deus.
Quando falamos deste mistério central de nossa fé e que toda a vida da Igreja gravita em torno, estamos na verdade falando de um Deus que se apresenta a nós naquilo que lhe é próprio – Pai, Filho e Espírito Santo – e que sendo pessoa quer se relacionar conosco, é um Deus pessoal que quer ser experimentado, participar e partilhar de nossas vidas. Então mais que falar de conceitos racionais temos que experimentá-lo, Deus é pessoa e pessoa se relaciona, conhece e dá a conhecer. Foi isso que aconteceu com o povo de Israel, em sua caminhada. Foram experimentando o Deus que se revelava e a medida de suas experiências foram entendendo, participando da vida de Deus que caminhava com Seu povo. Com a vinda do Filho do Homem, prometido no A.T. Jesus revela com Sua Palavra as coisas de Deus mostrando ao Homem tudo o que Deus queria que conhecêssemos e Jesus revela a Trindade. Ele diz: “Eu e o Pai somos um”. (Jo 10,30); “...como meu Pai me conhece e eu conheço o Pai...”. (Jo 10, 15). Colocando na igualdade com o Pai sem ser o Pai, ele é o filho consubstancial, da mesma substância, da mesma essência. O próprio Jesus apresenta o Espírito Santo como igual ao Pai e o Filho: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Paráclito, para que fique eternamente convosco”. (Jo 14, 16); “Quando vier o Paráclito, que vos enviarei da parte do Pai, o Espírito da Verdade, que procede do Pai, ele dará testemunho de mim”. (Jo 15, 26). O Espírito Santo procede do Pai e do Filho, isto é, da mesma essência. Assim Jesus apresenta a Trindade.
Certamente que é um grande mistério, que deixou Santo Agostinho, o maior teólogo da Trindade, inquieto ao ponto de um dia estar à beira mar pensando neste mistério ao que uma criança brincando na areia, pegava um pouco de água e colocava em um pequeno buraco, o Santo, observando, pergunta o que ela estava fazendo. Ela diz: “Estou colocando a água do oceano neste buraco”, mas isso é impossível, responde o Santo, e recebe a resposta que cala sua vida e sossega sua alma – “É mais fácil colocar toda a água do mar neste pequeno buraco do que o senhor entender o Mistério da Santíssima Trindade”. Olhe bem. É um mistério, mas é uma verdade, pois Jesus revelou a nós e o que o Senhor fala é verdade, além disso, nossa vida de fé é cercada pela ação da Trindade com quem relacionamos todos os dias. Vejamos a parábola da videira, Jesus diz: “Eu sou a videira verdadeira, e meu Pai é o agricultor. Todo ramo que não der fruto em mim, ele o cortará; e podará todo o que der fruto, para que produza mais fruto”. (Jo 15, 1-2). O Pai é o agricultor que rega, aduba poda e colhe os frutos; Jesus é o tronco onde estamos fixados sendo parte de Seu corpo e o Espírito Santo é a seiva que alimenta toda a videira. Desta forma a Trindade está diariamente participando de nossas vidas. Por isso que mais que buscar um entendimento racional, devemos buscar uma experiência, foi assim no A.T., foi assim na comunidade nascente e é assim em toda caminhada da Igreja. Afinal toda a vida é mistério, toda ciência está cercada de mistério, não existe nada que não seja um mistério, por isso que, quando Deus se revela em três pessoas, não pode ser absurdo, mas, uma parte de tudo que somos – um mistério. Sim, um mistério. Mas que sentimos, temos afinidade, participamos e que nos enche de felicidade e vida, e que queremos amar e servir todos os dias de nossas vidas por toda eternidade.
Amém!
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